A Medicina é uma das profissões mais antigas da humanidade e sempre esteve ligada a valores como compaixão, respeito à vida e responsabilidade com o próximo. Desde os primórdios, médicos e curadores tinham consciência de que o ato de cuidar não se restringia apenas ao conhecimento técnico, mas envolvia também princípios éticos que deveriam guiar suas condutas.
Nesse contexto, surgiu o Juramento de Hipócrates, considerado até hoje um dos símbolos mais importantes da prática médica.
Este artigo apresenta a origem do juramento, seu conteúdo, as adaptações que sofreu ao longo do tempo e sua relevância para a Medicina contemporânea.
A origem do Juramento de Hipócrates
O Juramento de Hipócrates surgiu como um compromisso solene feito pelos médicos em início de carreira. Na Grécia Antiga, a Medicina não era regulamentada como hoje. Para garantir que aqueles que praticavam a arte de curar respeitassem princípios básicos, criou-se esse texto que servia como guia moral.
O documento original invocava deuses gregos, como Apolo e Asclépio, e estabelecia obrigações que deveriam ser cumpridas ao longo da vida profissional. Entre elas estavam o respeito ao mestre que ensinou a Medicina, a transmissão gratuita do conhecimento aos discípulos e o compromisso de não utilizar o saber médico para causar danos.
Embora não haja consenso sobre a autoria direta de Hipócrates, o texto foi incorporado à sua tradição e se tornou parte da identidade médica ocidental.
O conteúdo do juramento original
O juramento clássico refletia valores da época e incluía passagens que hoje soam antiquadas, mas que eram revolucionárias em sua essência. Ele orientava o médico a considerar seu mestre como um pai e a ensinar Medicina aos discípulos sem cobrar por isso.
Determinava que o conhecimento deveria ser usado apenas para beneficiar os doentes, proibindo o uso de substâncias letais. Também havia referência explícita à proibição do aborto, condizente com a moral grega daquele período.
Outro ponto central era a preservação do sigilo. O texto alertava que tudo aquilo que fosse visto ou ouvido durante o atendimento deveria ser mantido em segredo, reforçando a confiança entre médico e paciente.
Esse conjunto de normas marcou a profissionalização da Medicina e serviu de base para a ética médica por séculos.
O Juramento de Hipócrates ao longo da história
Com o passar do tempo, o juramento foi adaptado às mudanças sociais, culturais e religiosas.
O juramento na Idade Média
Durante a Idade Média, o juramento passou a ser reinterpretado de acordo com os valores cristãos. A invocação dos deuses gregos foi substituída por referências ao Deus cristão, e a ética hipocrática foi incorporada ao pensamento religioso europeu. O juramento era recitado por estudantes nas universidades medievais, marcando o início da prática médica.
O Renascimento e o retorno ao clássico
No Renascimento, houve um resgate da cultura greco-romana, e o juramento voltou a ganhar força em sua versão mais próxima do original. As universidades europeias passaram a adotar o texto como parte da formação dos médicos, reforçando a ideia de que a Medicina exigia não apenas habilidade técnica, mas também compromisso ético.
A versão de Genebra
No século XX, especialmente após os horrores revelados pela Segunda Guerra Mundial e os experimentos médicos conduzidos em campos de concentração nazistas, percebeu-se a necessidade de atualizar os princípios éticos da profissão. Em 1948, a Associação Médica Mundial elaborou a Declaração de Genebra, considerada a versão moderna do Juramento de Hipócrates.
Essa adaptação retirou as referências religiosas, incluiu valores universais como o respeito à dignidade humana e destacou a importância dos direitos humanos. Foi um marco para a bioética moderna.
Versões atuais
Hoje, não existe apenas uma versão do juramento. Universidades e conselhos médicos de diferentes países adaptam o texto de acordo com seus contextos. No Brasil, as faculdades de Medicina utilizam uma versão moderna que mantém a essência do compromisso com a vida e com a ética, mas atualizada para os desafios do século XXI.
A importância do Juramento de Hipócrates

Mesmo com todas as adaptações, o juramento continua sendo um símbolo poderoso da Medicina.
Compromisso com a vida
O princípio fundamental do juramento é preservar e proteger a vida. Esse compromisso orienta médicos em situações delicadas, como no atendimento de pacientes em estado terminal, em decisões sobre tratamentos arriscados ou em dilemas ligados à reprodução assistida.
Ética e responsabilidade
O juramento recorda que a prática médica não pode ser reduzida à técnica. O médico é responsável por decisões que impactam vidas e, por isso, precisa agir com ética, empatia e responsabilidade.
Relação médico-paciente
Ao reafirmar o dever de sigilo e respeito, o juramento fortalece a confiança entre médico e paciente. Essa relação é a base para diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.
Referência em dilemas modernos
Com os avanços da ciência, surgem novos dilemas éticos, como a manipulação genética, a clonagem, a inteligência artificial aplicada à saúde e a discussão sobre eutanásia. O juramento serve como um ponto de partida para refletir sobre esses temas à luz da ética.
O juramento no Brasil
No Brasil, é tradição que os formandos de Medicina recitem o juramento em cerimônias de colação de grau. Esse momento simbólico marca a transição de estudante para médico.
A versão brasileira atualizada inclui princípios como dedicação integral ao bem-estar do paciente, respeito à dignidade humana e compromisso com a ciência. É um texto que mantém viva a essência hipocrática, mas adaptado aos valores da sociedade contemporânea.
Críticas e debates sobre o Juramento de Hipócrates
Apesar de seu valor simbólico, o juramento também é alvo de críticas.
Alguns especialistas apontam que ele não contempla toda a complexidade da Medicina moderna. Questões como direitos reprodutivos, cuidados paliativos e uso de novas tecnologias não aparecem no texto original. Por isso, muitos defendem que o juramento deve ser constantemente revisado e atualizado.
Outros afirmam que o juramento tem caráter mais simbólico do que prático, já que a conduta dos médicos é orientada principalmente por códigos de ética profissional. No entanto, mesmo como símbolo, ele exerce papel importante na formação da identidade médica.
Um legado que atravessa séculos
O Juramento de Hipócrates nasceu na Grécia Antiga, mas sua mensagem ecoa até os dias de hoje. Mais do que um texto, ele representa a essência da Medicina: cuidar da vida com ética, respeito e responsabilidade.
Ao recitá-lo, médicos assumem publicamente que suas ações estarão sempre voltadas para o bem-estar do paciente. Mesmo diante de dilemas modernos e avanços científicos, a essência do juramento continua relevante. Ele recorda que, acima da técnica e da ciência, a Medicina é uma prática profundamente humana.
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