
Nas últimas décadas, tornou-se cada vez mais comum encontrar jovens usando óculos ou relatando dificuldades para enxergar de longe, principalmente durante as aulas ou ao usar dispositivos eletrônicos.
Esse fenômeno não é coincidência: é reflexo de uma transformação no estilo de vida mundial que tem afetado diretamente a saúde dos olhos.
A explosão no uso de telas, a redução do tempo ao ar livre e mudanças nas atividades escolares têm criado um cenário preocupante. A miopia, por exemplo, deixou de ser um simples incômodo visual e, hoje, é considerada uma questão de saúde pública global.
Panorama da saúde ocular entre crianças e jovens
O aumento dos problemas visuais entre as novas gerações é evidente. No Brasil, estima-se que cerca de 30% das crianças em idade escolar tenham alguma dificuldade refrativa, especialmente a miopia.
Esses números ganham ainda mais destaque quando comparados aos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que alerta para uma disparada no número de jovens míopes em todo o planeta.
Cenários como o de Cingapura, onde 80% dos jovens adultos apresentam miopia, revelam até onde esse problema pode chegar. Na China, Coreia do Sul e Taiwan, a situação é ainda mais dramática em algumas regiões, mais de 90% dos adolescentes são míopes.
Principais causas dos problemas oculares na juventude
Excesso de telas desde a infância
O avanço da tecnologia e a onipresença de telas digitais afetam diretamente a saúde ocular. Tablets, celulares, computadores e televisores exigem forte esforço de focalização de perto, o que aumenta o risco de desenvolver miopia.
Ademais, o uso prolongado interrompe o relaxamento dos músculos oculares, provocando fadiga visual.
Durante a pandemia de covid-19, esse problema se intensificou. Com as crianças confinadas em casa, foi registrado um aumento expressivo nos índices de miopia precoce. A “miopia da quarentena”, como ficou conhecida, foi associada à limitação dos estímulos visuais ao ar livre e ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos.
Falta de luz solar e tempo ao ar livre
A exposição à luz natural é essencial para o desenvolvimento saudável da visão. Estudos indicam que passar pelo menos 2 horas por dia ao ar livre ajuda a prevenir a progressão da miopia.
A menor luminosidade dos ambientes internos não proporciona o mesmo estímulo para a retina, o que pode acarretar um alongamento excessivo do globo ocular, origem da miopia.
Ademais, atividades ao ar livre favorecem a visão à distância e o relaxamento dos músculos oculares.
Em países com altos índices de urbanização e exigência escolar intensa, como Japão e Coreia do Sul, a prevalência de miopia acompanha o tempo reduzido que as crianças passam fora de casa.
Estímulos visuais inadequados
Nos primeiros anos de vida, é importante que os olhos da criança sejam estimulados com variedade de formas, cores e distâncias. A falta de estímulo adequado, associada a diagnósticos tardios, pode desencadear ou agravar condições já existentes, como ambliopia e astigmatismo.
A ausência de prevenção e o diagnóstico em estágios avançados elevam os riscos de danos permanentes. Em muitos casos, o uso de óculos é suficiente para corrigir o problema, mas, se não tratado a tempo, o distúrbio pode evoluir para quadros graves de deficiência visual.
Quais são os distúrbios oculares mais comuns?
Miopia
Ela se caracteriza pela dificuldade de enxergar objetos distantes e tem se tornado cada vez mais comum desde a infância. Quanto mais precoce for seu desenvolvimento, maior o risco de evoluir para graus elevados de miopia, prejudicando significativamente a qualidade visual.
Hipermetropia
Ao contrário da miopia, a hipermetropia compromete a visão de perto. Embora comum em bebês, essa condição tende a se normalizar com o crescimento. Contudo, quando persiste, exige correção para evitar ambliopia.
Astigmatismo
Causa distorção visual em todas as distâncias, resultante de irregularidades na curvatura da córnea. Como pode ocorrer associado à miopia ou hipermetropia, o diagnóstico precoce é essencial para evitar prejuízos no aprendizado.
Ambliopia e estrabismo
Conhecida como “olho preguiçoso”, a ambliopia pode se desenvolver por conta de um desalinhamento ocular ou erro refrativo significativo.
Já o estrabismo, marcado pelo desalinhamento dos olhos, pode trazer consequências sociais e fisiológicas, além de comprometer a visão binocular.
Glaucoma congênito
Apesar de raro, é um distúrbio grave que pode levar à cegueira se não tratado. A pressão intraocular elevada desde o nascimento exige acompanhamento oftalmológico contínuo.
Impactos dos problemas visuais na vida dos jovens
Os efeitos vão além da saúde física. A presença de distúrbios oculares não corrigidos pode comprometer diversas áreas do desenvolvimento:
- Desempenho escolar: Dificuldades para enxergar compromissos no quadro e leituras geram desinteresse e baixo aproveitamento;
- Saúde emocional: Problemas visuais não tratados afetam a autoestima e a interação com colegas;
- Desenvolvimento motor: A visão ruim pode limitar a participação em esportes e brincadeiras;
- Qualidade de vida: A longo prazo, limitações visuais interferem diretamente no bem-estar geral do indivíduo.
Estratégias para prevenir problemas oculares na infância e adolescência
Garantir uma boa saúde dos olhos desde os primeiros anos pode evitar complicações no futuro. A OMS destaca que até 80% dos casos de deficiência visual são evitáveis com medidas simples, como as descritas a seguir:
- Mais tempo ao ar livre: Pelo menos duas horas por dia de exposição à luz natural, seja em brincadeiras ou deslocamentos;
- Redução do tempo de tela: Intervalos regulares durante o uso de dispositivos e limite de horas por dia;
- Acompanhamento oftalmológico: Consultas regulares, desde os primeiros meses de vida, principalmente se houver histórico familiar;
- Estimulação visual adequada: Uso de brinquedos coloridos, livros com diferentes formatos e estímulos sensoriais;
- Alimentação rica em nutrientes para os olhos: Betacaroteno, vitamina A e ômega 3 em alimentos como cenoura, espinafre, peixe e mamão.
Intervenções globais e tecnologia no combate à miopia
Países asiáticos, que enfrentam índices alarmantes de miopia, vêm adotando medidas específicas. Cingapura, por exemplo, desenvolveu tratamentos inovadores, como o uso de colírios com atropina em baixas doses e dispositivos de terapia com luz vermelha.
Ademais, há iniciativas educacionais focadas na ampliação do tempo ao ar livre nas escolas e redução das tarefas escolares para evitar o excesso de leitura em ambientes fechados.
Também surgem propostas de arquitetura escolar que privilegiam salas de aula com maior entrada de luz natural.
Um alerta para a saúde visual das novas gerações
A crescente incidência de miopia infantil no mundo acende um sinal vermelho para pais, educadores e profissionais da saúde.
A UNDB está atenta a esse cenário e reforça a importância da conscientização sobre os impactos do uso excessivo de telas, da falta de exposição à luz natural e da necessidade de acompanhamento oftalmológico desde cedo.
Cuidar da visão hoje é garantir um amanhã com mais clareza na escola, nas relações e na vida.
Proteja a sua visão!
Diante da escalada dos problemas oculares entre crianças e jovens em todo o mundo, tornou-se urgente repensar hábitos e prioridades. A saúde dos olhos não pode ser sacrificada em nome da performance escolar ou do entretenimento digital.
O desafio está em encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia, o desempenho acadêmico e o bem-estar visual. Incentivar hábitos saudáveis, procurar cuidados médicos regulares e criar ambientes escolares mais naturais são passos essenciais para garantir um futuro com mais nitidez não apenas nas lentes, mas na vida.